“Boa
tarde, amor! Quero
te dizer o quanto é bom te ter pertinho. Ter o afago, o beijo, o abraço, o olhar, o toque... Mas, sei lá porquê, hoje me deu vontade de te escrever, como
fazia antes... Amor, obrigada pelo que tem me dado. Obrigada, principalmente,
pelo que você é. Obrigada por esses dezessete dias, nos quais tenho vivido simplesmente
um sonho... Um sonho do qual não quero acordar. Nunca se esqueça que te amo, da
forma mais sincera e intensa. Te amo como nunca pensei ser capaz de amar... E
estou com você, meu amor, para o que der e vier... Sempre! Obrigada por me
fazer tão feliz! Puxa, em 17 dias, já fomos à igreja juntinhos, você já me deu
aulas de direção, já nos acabamos de dançar na Ocean Drive, já participamos de confraternizações
com amigos, já vivemos o mais lindo entardecer numa praia, já nos lambuzamos
com sorvete e cobertura de chocolate, já andamos abraçadinhos ou de mãos dadas pelas ruas de Virginia, já demos muitos
risos vendo filmes de comédia, já cantamos ao som de Daniel, Kim e Legião na
nossa "preta" (nosso carro). Enfim, já nos amamos muito, muito! Amor,
com toda a sinceridade do meu coração, eu digo que esses 17 dias, ou seja,
esse "momento de amor", pra mim, já valeu uma vida... Obrigada! Eu te
amo! Agora preciso ir, para preparar a sua comidinha... Risos. Poly." Em
27/12/2006.
Boa tarde, queridas(os)!
Nesse fim de semana, dando uma “faxina” em meus e-mails pessoais,
encontrei essa preciosidade aí. Esse foi o primeiro e-mail que enviei ao meu
esposo, após o nosso casamento. Dezessete dias havia se passado, e eu estava
radiante de felicidade. Ele estava no trabalho, e resolvi escrever.
Nesse tempo, eu pensava que o assunto drogas era coisa do passado, e que
apenas o nosso amor e felicidade eram suficientes para ele nunca mais recair.
Eu não sabia nada sobre dependência química, mesmo sendo filha de um
dependente. E sabia muito menos sobre a codependência.
Se eu tivesse esse conhecimento antes, certamente teria sofrido muito
menos. E teria feito menos escolhas erradas no decorrer da minha vida ao lado
do meu esposo.
Quando falo em escolhas erradas, falo em facilitação, em abrir mão da
minha vida, em esquecer de mim mesma, dos meus planos, em cometer insanidades,
em pensar que eu era a culpada pela doença do meu amado e a responsável por sua
cura.
Entretanto, quando releio esse e-mail hoje, quase sete anos depois,
percebo os mesmos sentimentos em relação ao meu esposo: amor, gratidão, paixão
e cumplicidade. Mas, claro que tudo isso teve que passar por muitos “fornos”,
até chegar à maturidade, e confesso que ainda não chegaram onde devem chegar.
Se eu pudesse mudar o texto desse e-mail eu mudaria apenas uma frase: “estou com você para o que der e vier”.
Não que eu mudaria essa frase, mas faria uma ressalva. “Amor, se você quiser se recuperar, estarei contigo para o que
der e vier, sempre!”
Só
por hoje, ele está limpo há 6 meses e 4 dias. E por isso estou aqui, para o der
e vier. Amo ao meu esposo. O admiro. Gosto do respeito e cuidado que ele tem
comigo. E agradeço a Deus por ter conseguido passar pelos momentos de vale, sem
deixar de amá-lo, e sem abandoná-lo.
Agora
fica a questão: o que é abandonar?
Segundo
o dicionário é deixar, é largar, é desprezar. E digo mais: é o sentimento de "não acredito mais em você. Você não tem jeito.”
É perder a esperança e o amor pelo próximo. É negar ajuda a quem quer ser
ajudado. E, às vezes, é desejar o mal.
Nunca
abandonei ao meu esposo. Nunca deixei de amá-lo ou de orar por ele. E acho
muito doloroso isso, porque por mais que a dependência química de alguém nos
machuque, ela ainda é uma doença.
Mas,
há um porém muito importante, eu nunca o abandonei, mas algumas vezes, precisei
me afastar.
Conseguem
perceber a diferença entre abandonar e se afastar?
Neste
fim de semana, postei a seguinte frase em meu facebook: “Que Deus multiplique as nossas forças e esperanças para que nunca os
abandonemos... E que Ele também nos dê a sensatez para discernir a hora de nos
afastarmos, e como nos desligarmos... Isso não é abandono, é apenas amor saudável.”
Precisei me afastar para
proteger aos membros da nossa família. Precisei me afastar, em uma tentativa
desesperada de que ele buscasse ajuda. Precisei me afastar, mesmo querendo
estar junto.
Entretanto, eu só consegui
me afastar, quando foi necessário, por não me sentir culpada pela doença dele,
e por perceber, por meio dos grupos de apoio, que me afundar junto, não
salvaria ninguém; e que eu não tinha o controle sobre o outro.
Recebo muitos e-mails,
muitas mensagens recheadas de culpa.
Muitas de nós perdemos a noção de onde
termina a nossa vida e onde começa a vida do outro. É uma confusão dentro de
nós. Essa é a nossa doença. E precisamos nos cuidar, nos tratar e nos sarar,
para então ajudarmos ao outro.
Meu maridão hoje está bem.
Ele tem algumas características que não gosto, e tem um milhão de outras
que gosto, e eu o amo. Entretanto, se hoje estamos vivendo isso, não pensem que
100% é resultado do que eu plantei, não não.
50% é mérito meu, mas 50% é
mérito dele.
Achei muito bacana algo que
li no face de uma amiga: “O amor tudo
suporta, mas não aceita tudo.”
É verdade. O meu amor pelo
meu esposo suportou tanta coisa, e o amor dele por mim também. Mas, nós não aceitamos
tudo um do outro.
Aceitamos tudo do outro
quando não amamos a nós mesmos. E quando não amamos a nós mesmos é muito difícil
ser feliz em um relacionamento, seja com um adicto ou com um não-adicto.
Então a lição nº 01 que
aprendi nesses quase sete anos é “amor próprio”. E, claro, amando a mim mesma,
tenho aprendido a amar na medida certa ao homem mais lindo desse mundo: meu
maridão!
Beijos, queridas(os)! Cuidem-se!
P.S: Amigas(os), hoje respondi aos últimos e-mails que constavam sem resposta. Se, porventura, não respondi ao seu e-mail, me reenvie. E peço que evitem me enviar mensagens inbox no facebook, pois aproveito o horário de almoço para responder aos e-mails, e no meu trabalho o facebook é parcialmente bloqueado. Então, a melhor forma de entrar em contato é pelo e-mail polyp.escritos@gmail.com.